Pe. Pedro Maria
I – Estado intermediário entre a vida nesta terra e a recompensa celeste, em que se faz a purificação que prepara a subida ao céu.
Na Bíblia existem outras designações desse estado intermediário:
1 - Prisão
“Entra em acordo sem demora com o teu adversário, enquanto estás em caminho com ele, para que não suceda que te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao seu ministro e sejas posto em prisão. Em verdade te digo: dali não sairás antes de teres pago o último centavo”. (Mt 5,25-26).
“Digo-te: não sairás dali, até pagares o último centavo”. (Lc 12,59).
2 – Fogo
Mas farei passar este terço pelo fogo; purificá-lo-ei como se purifica a prata; prová-lo-ei como se prova o ouro. Então ele invocará o meu nome, eu o ouvirei e direi: “Este é meu povo”; e ele responderá: “O Senhor é o meu Deus” (Zc 13,9).
“Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém, passando de alguma maneira através do fogo”. (I Cor 3,15).
3 – Mundo vindouro
“Todo o que tiver falado contra o Filho do homem será perdoado. Se, porém, falar contra o Espírito Santo, não alcançará perdão nem neste século nem no século vindouro”. (Mt 12,32).
4 – Abismo
“Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos (abismos)”. (Fl 2,10).
5 – Embaixo da terra
“Mas ninguém, nem no céu, nem na terra, nem debaixo da terra, podia abrir o livro nem examiná-lo” (Ap 5,3).
E todas as criaturas que estão no céu, na terra, debaixo da terra e no mar, e tudo o que contêm, eu as ouvi clamar: “Àquele que se assenta no trono e ao Cordeiro, louvor, honra, glória e poder pelos séculos dos séculos” (Ap 5,13).
6 – Campo ou parte
Eis o que ainda me mostrou o Senhor Javé: O Senhor Javé chamava o fogo para exercer o castigo. O fogo, tendo devorado o grande abismo, consumia também os campos. (Am 7,4), segundo São Jerônimo.
7 – Batismo de fogo
Ele tomou a palavra, dizendo a todos: “Eu vos batizo na água, mas eis que vem outro mais poderoso do que eu, a quem não sou digno de lhe desatar a correia das sandálias; ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo”. (Lc 3,16), segundo Orígenes.
8 – Espírito de justiça e espírito de fogo
“Quando o Senhor tiver lavado a imundície das filhas de Sião, e apagado de Jerusalém as manchas de sangue pelo sopro do direito e pelo vento devastador, (Is 4,4)”, segundo São Basílio.
9 – Profundezas
“Do fundo do abismo, clamo a vós, Senhor; (Sl 129,1)”, segundo a liturgia.
II – Principal pena do purgatório: separação provisória de Deus (pena do dano):
1. “Aquelas almas, não só por natureza, mas ainda pelo amor sobrenatural em que ardem para com Deus, com tal ímpeto são impelidas para se unirem ao sumo Bem que, vendo-se impedidas por motivo de suas culpas, sofrem dor tão acerba que, se lhes fosse possível a morte, morreriam a cada momento” (Sto. Afonso de Ligório + 1787).
2. As almas do purgatório estão ansiosas para verem a Deus.
“Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo. Quando irei contemplar a face de Deus?” (Sl 41,3)
“Minha alma desfalecida se consome suspirando pelos átrios do Senhor. Meu coração e minha carne exultam pelo Deus vivo” (Sl 83,3).
“A quem diriges este discurso? Sob a inspiração de quem falas tu?” (Sl 26,4).
“Ó Deus, vós sois o meu Deus, com ardor vos procuro. Minha alma está sedenta de vós, e minha carne por vós anela como a terra árida e sequiosa, sem água. Quero vos contemplar no santuário, para ver vosso poder e vossa glória” (Sl 62,2-3)
III – Outra pena do purgatório: fogo material (pena dos sentidos).
1. Snto. Agostinho ( + 430): “O fogo do purgatório é mais doloroso que qualquer pena que possamos ver, sentir ou imaginar deste mundo.
2. Snto. Tomás de Aquino (+ 1.274) diz que o fogo do purgatório é semelhante ao do inferno: “pelo mesmo fogo é atormentado o condenado, e purificado o escolhidos”.
3. Dionísio Cartusiano, teólogo do século XV, refere-se que certo defunto, ressuscitado por intercessão de São Jerônimo, disse a São Cirilo de Jerusalém que todos os tormentos desta terra são gozos e delícias em comparação com o menor sofrimento do purgatório: “Todos os tormentos desta vida, se comparados à menor pena do purgatório, seriam verdadeiros gozos”.
4. É teologicamente certo, bem que não DE FÉ, que as almas do purgatório são purificadas pela ação de um fogo real, e não metafórico. Alega-se:
I Cor 3,15:- Se pegar fogo, arcará com os danos. Ele será salvo, porém passando de alguma maneira através do fogo.
5. Há teólogos que tratam do purgatório como uma purificação durante o encontro com Deus no juízo particular. Alegam:
Ap 2,18:- “Ao anjo da Igreja de Tiatira, escreve: Eis o que diz o Filho de Deus, que tem os olhos como chama de fogo e os pés semelhantes ao fino bronze”.
IV. Como Ajudar as Almas do Purgatório:
1. Com a Santa Missa, através da qual a misericórdia divina sacia sua fome de ver a Deus, como disse Davi:
Sl 110,4:- O Senhor instituiu um memorial das suas maravilhas, ele que é misericordioso e compassivo.
O Concílio de Trento (1545 - 1563) afirmou que o Santo Sacrifício da Missa é o sufrágio mais eficaz.
2. Com a ESMOLA.
Tb 4,18:- Põe o teu pão e o teu vinho sobre a sepultura do justo; mas não o comas, nem o beba em companhia dos pecadores.
Segundo Snto. Tomás, a esmola tem mais VALOR SATISFATÓRIO pelas almas do que a própria oração.
3. Com a ORAÇÃO
II Mac 12,46:- era esse um bom e religioso pensamento; eis por que ele pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de suas faltas.
II Tm 1,18:- O Senhor lhe conceda a graça de obter misericórdia junto do Senhor naquele dia. Sabes melhor que ninguém quantos bons serviços ele prestou em Éfeso.
4. Com o JEJUM
I Sm 31,13:- Tomaram os ossos e os enterraram debaixo da tamareira, em Jabes. Depois disso jejuaram sete dias.
5. Com as BOAS OBRAS
Eclo 7,.37:- Da de boa vontade a todos os vivos, não recuse esse benefício a um morto.
V. ALEGRIAS DO PURGATÓRIO
Apesar dos sofrimentos, são também inefáveis as alegrias na Igreja Padecente (= purgatório).
São Bernardino de Sena (+ 1.444) trata disso de modo convincente e digno de fé, pois funda-se não em lendas e sim na teologia, e faz delas um longo elenco:
1) Confirmação na graça;
2) Certeza da salvação;
3) Amor de Deus;
4) Visita dos anjos;
5) Visita dos santos;
6) Visita de Nossa Senhora:
Comentando o texto da Escritura – “Penetrei no fundo do abismo” (Eclo 24,8) – São Boaventura diz: “isto é, do purgatório para consolar com minha presença essas santas almas”.
· Gerson, célebre teólogo do Século XV, disse: No dia da Assunção de Maria esvaziou-se o purgatório. No momento de ser elevada ao céu, Maria pediu ao seu amado Filho a graça de levar consigo todas as almas, que então se achavam no purgatório. Desde então, diz Gerson, está Maria na posse do privilégio de livrar seus devotos daquelas penas.
· Dionísio Cartusiano, teólogo do mesmo século XV, diz que nas festas do Natal e da Ressurreição do Senhor, Nossa Senhora liberta muitas almas.
· Novarino, teólogo do século XVII, inclina-se a crer que o mesmo acontece em todas as festividades solenes de Nossa Senhora..
Palavra Final:
“Eu sou a Mãe de todas as almas do purgatório; pois por minhas orações lhes são constantemente mitigadas as penas que mereceram pelos pecados cometidos durante a vida”. (Revelação de Nossa Senhora a Sta. Brígida (+ 1.373), com a aprovação do Papa Bonifácio IX).
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